13/09/2022 às 16h53min - Atualizada em 14/09/2022 às 00h09min

Onda de demissões no Brasil é sinal de adequação nas relações de trabalho, diz especialista

Uranio Bonoldi, autor de “Decisões de Alto Impacto”, considera que o pós-pandemia foi gatilho para que colaboradores saíssem em busca de empregos melhores

SALA DA NOTÍCIA Victor Hugo Felix

Segundo a LCA Consultores, com base nos registros do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), nos últimos 12 meses até julho de 2022 o Brasil atingiu 6,467 milhões de pedidos de demissão, entre os trabalhadores com carteira assinada. O número representa 32,4% do total de desligamentos no período (19,984 milhões), o maior registrado desde o início do levantamento, em janeiro de 2020. Para Uranio Bonoldi, escritor especialista em carreira e negócios, os dados revelam que, globalmente, se vive um período de adequação nas relações de trabalho, com profissionais em busca de empregos com melhores condições.

“Não é só uma remuneração melhor que está em jogo, mas sim a qualidade do próprio trabalho”, pontua Bonoldi, autor do livro “Decisões de Alto Impacto: como decidir com mais consciência e segurança na carreira e nos negócios”. Para o especialista, o retorno às atividades após a pandemia foi um dos principais fatores a impactar nas decisões dos trabalhadores. “Nos últimos dois anos se viveu muito um cenário de incertezas, o que gera angústia e engatilha o medo em relação ao futuro, o que levou as pessoas a aceitarem trabalhos que às vezes não eram vantajosos apenas para garantir a sobrevivência. Agora, esse medo dá lugar ao desejo por algo melhor, dentro de um risco aceitável”, diz.

Há que se considerar ainda o impacto em setores específicos, que foram fortemente prejudicados pela pandemia. No quesito estoque de vagas, ou seja, na relação entre o número de demissões e o número de empregos com carteira assinada, o setor de alojamento e alimentação é o que obteve maior percentual de pedidos de demissão no acumulado de 12 meses até julho (2%). Este é justamente o setor que sofreu retração por conta do isolamento social. “Muitos trabalhadores tiveram que se submeter a uma perda na remuneração, e agora veem a oportunidade de se realocar no mercado de trabalho, em busca de qualidade de vida”, diz Bonoldi.

O fenômeno da “grande demissão”

Os dados da LCA Consultores/Caged estão em consonância com o movimento da chamada “grande demissão”, que se popularizou neste ano nos EUA, marcado pelo abandono massivo dos postos de trabalho. A onda de demissões voluntárias, motivada pelos mais diferentes fatores, é encarada como o enfrentamento às condições de trabalho desfavoráveis. “O que confirmamos agora é que esse não é um movimento local, e sim global, que afeta todas as gerações de trabalhadores. As pessoas querem mais equilíbrio entre vida pessoal e profissional, bem-estar e sucesso profissional. Quem pode se arriscar nessa busca, está dando seus primeiros passos”, diz Uranio Bonoldi.

O escritor frisa que, especialmente no Brasil, onde as taxas de desemprego ainda estão elevadas, as demissões voluntárias são mais comuns entre colaboradores com melhor qualificação. “E ainda temos que considerar que esse movimento pode estar atrelado à pejotização. As pessoas deixam de trabalhar com carteira assinada, mas seguem atuando como PJ, com mais flexibilidade e vantagens nos custos para o empregador e melhor remuneração para o colaborador. Isso é um fenômeno para um tipo de profissional específico, com maior qualificação e oportunidades. Os demais, ainda seguem com menor poder de melhora de condições de trabalho, pela menor qualificação ”, conclui.

Sobre o autor:

Uranio Bonoldi é palestrante e especialista em negócios e tomada de decisão. É professor do Executive MBA da Fundação Dom Cabral, onde leciona sobre "Poder e Tomada de Decisão". Educado pelo método Waldorf, sua graduação e em seguida a pós-graduação em administração de empresas foi feita na FGV-SP. Atuou em grandes empresas como diretor e CEO.


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